sábado, 24 de abril de 2010

O miúdo que pregava pregos numa tábua


«Voltando mais uma vez para trás nesta escrita em ziguezague, o miúdo cujos dedos naquele então tinham deixado de tamborilhar, acomoda-se na penúltima fila da sala de cinema do Orfeão de Águeda, à espera que a Senhora da Mãozinha venha sentar-se a seu lado. E ela vem. Passados uns minutos, sem palavras e sem sequer olhar para ele, desabotoa-lhe a braguilha, tira-lha para fora o instrumento já completamente empinado e começa a manipulá-lo. A certa altura afrouxa a pressão e desata a tocar uma espécie de guitarrada até fazê-lo subir ao céu. O miúdo que tinha perdido o ritmo percebe então que há muitas escritas antes da escrita.»


Retirado do livro "O MIÚDO QUE PREGAVA PREGOS NUMA TÁBUA" de Manuel Alegre.

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