domingo, 22 de julho de 2012

Vida no Campo


«Vida no Campo não é uma, são muitas janelas abertas em simultâneo. Perdidos os nexos estáveis que desvendavam o filme-narrativa da realidade do rural, o actual contexto de mudança acelerada está a desmultiplicar ate ao infinito as representações sobre a ruralidade: a pós-, a neo-, a des-ruralização. A leitura do rural distribui-se e dissipa-se em múltiplas esferas (a ambiental, a produtiva, a patrimonial, a turística, a sociológica, etc.). Ou, então, é condensada e fantasiada numa só. É impossível manter todas estas janelas abertas em simultâneo e daí nasce uma crise de sentido. 
É difícil reaprender o rural e sobre ele construir novas identidades. É difícil encontrar continuidades entre as memórias mais ou menos ficcionadas do passado e o que lhes está a acontecer. É difícil entender a simultaneidade e a contradição dos acontecimentos e o modo como se sucedem. É difícil, sobretudo, controlar as emoções acerca do que acontece. Estamos a um passo de uma crise total de sentido. esta conjuntura produz-se numa hiper-abundância de imagens e elas organizam-se numa diversidade enorme de narrativas. Serão listas infinitas de imagens, sensações e emoções, uma Vida no Campo et cetera, isto é, uma vida que tende a conter uma infinidade de coisas e relações entre coisas.»

Retirado do livro "Vida no Campo" de Álvaro Domingues, Dafne Editora.


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